Eu queria dizer que tô bem
E muitas vezes eu até consigo
Um bom dia alegre, um sorriso no rosto
E é assim que eu sigo
Falar que "tá tudo bem", "nada aconteceu", é um mecanismo de defesa
É difícil encontrar uma barreira mental que na pandemia se manteve ilesa
Na época onde usar máscara é normal, e já se tornou previsível
Eu me escondo atrás dos meus sorrisos, minha máscara é invisível
Sabe, eu queria conseguir me abrir
No fundo, no fundo, queria muito tirar esse peso de das costas
Mas a máscara do "tudo bem" "tá tudo legal" já tomou conta de mim
Esconder atrás do próprio sorriso já é minha resposta
Ela é minha companheira, vai comigo ao trabalho, mercado e até rolês
Me ajuda a fazer amigos, a dar gargalhadas, sempre sabe o que dizer
Ela nunca permitiu que alguém me visse chorar, desabafar e até me render
Imagina você, o que um sorriso é capaz de esconder
Ela não é de pano, algodão ou daquelas de crochê
Ela é interna, alimentada pelo meu próprio ego pra me defender
Mas... me defender de quem afinal?
Se estou sempre rodeado de quem gosto, e pessoas com alto astral
Ela me defende por que me faz bem, e do que me faz mal
Talvez da minha insegurança, culpa, ou sanidade mental
Só ela sabe de tudo
Só ela suporta o peso de carregar as memórias na mente
Só ela me faz sorridente
E por incrível que parece, só ela esteve sempre presente
Sempre não, devo admitir
Às vezes a tiro quando vou dormir
E nesses momentos o verdadeiro eu aparece aqui
E me permite escrever letras como essas daqui
Tirá-la é difícil, são momentos em que o sono não vem
A insônia ataca já que lhe convém
As memórias perturbam já que não tô bem
Aí a coloco de novo, afinal ninguém me esconde tão bem
Com ela de novo acordo pra recomeçar
Se eu estou bem? Claro que sim e você como está?
Sigo em frente até a noite chegar
Pois até lá ela está comigo, já nem eu mesmo consigo tirar.
Máscaras.
Felipe Duarte tem 24 anos e é poeta e slammer. Formado em Ciências Contábeis, escreve poesias sobre militância, questões raciais e sociais desde 2017.
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