O Cristo é o pai do homem

Texto e imagem por Agostine Braga



Talhei de você estranha carranca

e a deixei de peso, estacando a porta aberta.


Pesada, não valia te enxotar

pra esconder na penumbra ondeadas putas —

Você via tudo, com a chave do meu quarto

engolida em ebâneo útero.


Quando as vacas começaram a mugir

ressoando a dor de garras no pescoço;


no tempo que trepadeira esverdeara

na janela a sua boneca negra,

confundindo galinheiro

com varanda adentro mato,


ergui o tronco do assoalho

e te joguei na cama.


(uma salamandra escorreu

de sua medula à alcova

do menino demente —

não o sabia vivo, embora

me ecoassem dengos, lamúrias)


No leito (outrora berço),

parecia o seu busto

voltar no madeiro

por fungo de estrias,

de cascas, casulos...

minha Nanã Esmirna.


À noite,

a madeira se amacia,

abrigando bestas e aranhas

que se perdem num palude íntimo —

meu quarto, suas entranhas...


Ainda recordo a luz

do meu ocaso nascer parda

e, um tanto adormecido,

sentir me enlaçar

por galhos, seios, larvas e boca;


ungido por ferido âmago,

eu jorrava sufocando-me

no lodo, sob

gorjeios límpidos, 

murmúrios túrbidos...


Preso a ramos,

cruzado nas suas coxas,

recordo no fim entrever

nosso filho, de cócoras na porta,

soprando num osso elegíaca ária,

cantando sereno à salamandra,

feito Ossain Jesus Cristo.


Agostine Braga é um poeta situado em Patos de Minas.

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