Fragmentos do cotidiano esmiuçados em imagens capturadas por uma jovem que consolida o próprio estilo na modalidade de fotografia de rua e documental. Vira-latas, reflexos, imperfeições e entalhes na arquitetura são alguns dos temas escolhidos pela ótica de Helen Cristina, estudante de História que registra o mundo pela escrita da luz.
Na conta em que divulga o trabalho no Instagram, a fotógrafa de 19 anos nomeou a conta homenageando a estátua grega de Vênus de Milo, devido ao fato de ter tatuado a obra de arte no corpo. Nas quase 150 fotografias publicadas na rede social percebe-se a vasta gama de cores e formatos nos assuntos clicados por Helen.
Natural de Patos de Minas, Helen Cristina caminha frequentemente pelas ruas de cidades diversas ávida por imagens novas a serem eternizadas pela câmera fotográfica do celular. Ela concedeu uma entrevista via WhatsApp ao Jornal de Patos, detalhando o que a inspira e o próprio processo criativo na fotografia de rua:
Jornal de Patos: Quando você começou a fotografar e como surgiu seu interesse pela fotografia de rua?
Helen Cristina: Meu interesse surgiu em meados de 2015, após ver o documentário "O Sal da Terra" e ficar apaixonada pelo trabalho do mineiro Sebastião Salgado. Antes disso eu já gostava de tirar fotos da minha família ou de viagens que fazíamos com uma câmera digital Sony DSC-W310 do meu padrasto. Eu não levava a sério e fotografava apenas por diversão, era muito observadora e ficava revendo as fotos depois.
Já mais velha anos 17 anos, deixei a fotografia um pouco de lado, pois não tinha muito tempo por causa dos estudos e do trabalho. Com o tempo comecei a desenvolver crises de ansiedade, então fazia caminhadas para me acalmar. Foi quando vi a chance de voltar a fotografar e andar por lugares que nunca havia percorrido antes para descobrir novas inspirações para as minhas fotos, mas ainda sem levar muito a sério.
Fazia isto para apreciação própria, até que por incentivo de um amigo decidi criar um Instagram para as fotos em que eu postava algumas sem comprometimento e recebia um ótimo retorno, além do incentivo de amigos que me emprestavam seus celulares para fotografar já que eu só contava com o meu que já está bem debilitado.
Comecei a estudar fotografia por minha conta, pois não tinha grana para pagar pelos cursos que queria fazer. Depois, já na graduação de História comecei a me interessar por fotografia documental e a fazer um paralelo entre a história e a fotografia. Usava como referência os ensaios de Robert Capa e da Margaret Bourke-White.
JP: Quais fotógrafos mais te inspiram?
HC: Minhas principais influencias são os fotógrafos Sebastiao Salgado, Rosa Gauditano, Helen Levitt, Alex Webb, Elliot Erwitt, João Wainer, Paulo Jares, dentre outros. Ultimamente estou acompanhando os trabalhos de Daniele Volpe e da Ana Carolina Fernandes, além dos coletivos Covid Latam, Women Street Photography e Magnum.
JP: Você acompanha o trabalho de fotógrafos de rua patenses?
HC: Sim, eu tenho um carinho muito grande pelo Vinicius, vulgo @panteracordegoza, amo as fotos dele e sem dúvidas foi uma das minhas principais influências. Também acompanho a Bel e o Agostine Braga que também são muito bons.
JP: Já lhe ocorreu alguma coisa inusitada enquanto fotografava pelas ruas?
HC: Uma vez entrei em uma casa abandonada muito velha para fotografar uma janela, onde havia uma cortina vermelha que me chamava muita atenção. Entrei na casa e escutei alguns barulhos vindo do teto e resolvi sair. Quando já estava de fora, parte do teto tinha se desmanchado, fiquei muito assustada e fui embora sem a foto da cortina.
Também já fui atacada por um cachorro que eu queria muito fotografar. A fotografia de rua me proporcionou conhecer vários personagens interessantes além de conversar com pessoas, o que me fez perder um pouco da timidez que tinha no começo.
JP: Percebo que você retrata animais com frequência. Do que você mais gosta de fotografar? Fale um pouco sobre o seu olhar e processo criativo.
HC: Eu tenho muita empatia por cachorros, por animais em geral e como eu tenho muitos bichos, gosto de ficar observando como eles se comportam. Acho engraçado a maneira como eles interagem com a câmera, como se soubessem que estão sendo fotografados, fazendo gracinhas ou até mesmo poses.
Durante as minhas caminhadas encontrava alguns cães e gatos de rua que interagiam comigo, e eu os fotografava. Comecei a me interessar mais por fotografias caninas quando peguei emprestado com um amigo um livro sobre o fotografo Elliot Erwitt, que também tirava fotos de cães. Ele dizia que os donos de cachorros refletiam em seus bichinhos e que pela convivência seus cachorros começavam a se parecer com seus donos, o que eu acredito ser verdade.
Eu gosto de fotografar tudo que me estimula e que me chama a atenção, seja um cachorro, uma pessoa, uma casa velha... Acho que o meu processo é estar sempre atenta a tudo, ser observadora, estar sempre disposta a captar algo e colocar o seu jeito de ver o mundo. Isso que é interessante na fotografia de rua: ter vários olhares sobre uma mesma coisa, todo fotografo é único, as fotografias podem ser em um mesmo local ou de um mesmo objeto, mas a forma de enxergar aquele algo vai ser diferente.
Estamos vivendo em um mundo pós-moderno de muito individualismo, em que as pessoas possuem “atitudes blasés” como dito pelo sociólogo de George Simmel. Eu acredito que a fotografia de rua é super válida para que haja uma quebra dessa bolha social, para que possamos estar mais abertos aos estímulos que nos rodeiam.
JP: Como tem sido fotografar durante a pandemia?
HC: Eu reduzi um pouco as minhas caminhadas, e foquei em fotos da minha casa e dos meus bichos, mas não parei de fotografar ambientes externos. Agora com a diminuição de pessoas transitando nas ruas, é interessante observar lugares que antes eram lotados e que agora se encontram vazios.
JP: Quais são os planos para o futuro em relação à fotografia de rua?
HC: Recentemente ganhei de um querido amigo, uma câmera Samsung WB100 e pretendo utilizá-la mais vezes. Quero testar coisas novas, e sinto que ainda a muito o que aprender sobre fotografia de rua e quando a pandemia passar, pretendo buscar lugares diferentes para documentar.
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2 Comentários
"A fotografia não é a máquina é o olhar "
ResponderExcluirTe amo Helen <3
ResponderExcluirObrigado por comentar!