Após vizinhos reclamarem de barulho, pista de skate do Bairro Boa Vista terá horário para uso

Por Caio Machado


A Prefeitura Municipal de Patos de Minas voltou atrás na decisão de realocar os obstáculos da pista de skate que funciona numa quadra do Bairro Boa Vista para o Projeto Saci. A decisão havia sido tomada em consenso no último domingo (14), numa reunião entre skatistas locais e o secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer Ivan Rosa.

Segundo o secretário, um abaixo assinado com cerca de 100 assinaturas havia sido protocolado pelos moradores do Bairro Boa Vista, que se queixavam do barulho provocado pelos skates no interior da quadra situada na Rua Diamantina, que dispõem de rampas e obstáculos feitos de concreto, metal e madeira compensada.

O incomodo fez com que os moradores se mobilizassem para que o esporte fosse coibido no local. A decisão inicial da Prefeitura e dos skatistas que participaram da reunião seria a de remanejar os obstáculos móveis da quadra para o Projeto Saci, que já possui uma pista de skate de concreto, inaugurada no começo dos anos 90.

Entretanto, a quadra do Bairro Boa Vista possui cobertura, o que impede de que os obstáculos de metal enferrujem e de que as rampas e transições feitas de madeira não apodreçam. Já no Projeto Saci, a quadra poliesportiva localizada ao lado da pista de skate não possui teto, o que resultaria na degradação rápida dos obstáculos mediante sol forte e chuva.

Após a decisão da Prefeitura, skatistas e patinadores que frequentam o local se mobilizaram pela internet e a solução temporária encontrada junto de Ivan Rosa será a de reformar os obstáculos e telas que cercam a quadra e definir horários para uso do local, pois segundos os vizinhos, a pista estaria sendo utilizada durante a madrugada, os impossibilitando de dormir.

“Conversei novamente com skatistas e iremos tentar outras alternativas para manter a pista no mesmo local, como por exemplo retirar a madeira compensada das rampas e trocar por madeira que emitam menos barulhos. Também iremos tentar fazer um acordo entre os skatistas e vizinhos, para resolver a situação em harmonia”, afirmou Ivan Rosa.


Na última terça-feira (16), algumas telas de proteção já foram trocadas e a previsão é a de que um portão seja colocado em umas das entradas que estava danificada e chaves sejam distribuídas para que os responsáveis escolhidos abram a quadra. O horário delimitado para encerramento das atividades foi às 19h.

O músico e lojista Cássio Dener, acredita que a decisão entre os skatistas e a Prefeitura foi acertada. “Para tudo é necessário ter regras e acredito que conviver bem e conciliar com os vizinhos é de extrema importância. Reduzir os horários de uso é essencial e acredito que com o tempo e bastante conversa, poderemos flexibilizar ainda mais os horários”.

Cássio conta que a quadra é um ambiente agradável e divertido e que muitas famílias frequentam o local pelas manhãs de domingo. “Eu mesmo trago minhas filhas para andar de skate na quadra. É importante que ela seja utilizada apenas para esporte e que seja proibido o consumo de bebidas alcoólicas, cigarros e outras coisas que prejudiquem a harmonia”.

Para o skatista local Eduardo Henrique, 16, que frequenta a pista diariamente, a mudança para o novo local não seria o ideal, pois além de não possuir quadra coberta, o Projeto Saci não possui nenhuma fonte de água nas redondezas. Já a quadra do Bairro Boa Vista dispõe de uma torneira a poucos metros da pista.

Ele conta que em dias de pico, cerca de 30 a 40 skatistas frequentam a pista e que nunca presenciou nenhum problema. Sobre os vizinhos, Eduardo conta que alguns realmente não gostam da quadra e ele acredita que um deles até tenha escondido um corrimão utilizado como obstáculo no gramado da praça.

O que os vizinhos pensam
O Jornal de Patos entrou em contato com vizinhos da quadra que não quiseram se identificar mas que confirmaram o transtorno. “O que incomoda não é o uso da quadra em si, mas os barulhos causados pelo impacto das manobras nas rampas improvisadas de madeira e os horários de uso, que vão até de madrugada em determinados dias”, disse uma moradora.

"Vimos que a Prefeitura estava na praça essa semana, porém não houve discussão com os moradores do entorno para o projeto de revitalização da quadra, assim como não houve quando foi feita a pista de caminhada, a academia e o playground, que não possuem iluminação até hoje”, disse a vizinha, que também se queixou de aglomerações na quadra durante a pandemia.

Um casal que não quis se identificar e mora em uma residência próxima à quadra não se queixou do barulho, porém também reclamou da falta de iluminação do local. “Um lugar coberto e escuro pode ser perigoso, pois não conseguimos visualizar o que acontece. Iluminar o local seria importante até para a segurança de quem caminha na praça ou transita por ali”.

Uma possível solução apontada por um vizinho seria a de emborrachar a parte inferior dos obstáculos para evitar o ruído provocado pelos skates, pois como as rampas não estão fixadas no chão, impediria que elas se movessem e reduziria o atrito, consequentemente diminuindo a emissão dos barulhos.

Patos de Minas possui três pistas de skate, mas nenhuma delas é 100% adequada
É importante ressaltar que os obstáculos disponíveis no local foram desenvolvidos pelos próprios skatistas. O projeto Saci, por exemplo, foi construído no começo da década de 90 e pela falta de referência de pistas de skate, foi projetado de forma incorreta, o que inutiliza boa parte dos obstáculos, sem falar no péssimo estado de conservação da pista.

A pista de skate localizada na Praça CEU no Bairro Alto da Colina também não foi projetada corretamente e o local é pouco utilizado por skatistas patenses, que encontraram refúgio na quadra do Bairro Boa Vista, que possui obstáculos, mesmo que improvisados, mais estruturados e que colaboram para a fluidez do skateboard.

A quadra do Bairro Boa Vista dispõe de uma funbox grande completa, com borda e corrimão, duas rampas de 45 graus, um quarter pequeno, um corrimão de solo, uma mini ramp pequena, um pad pequeno para manual e borda, duas transições e diversos outros obstáculos improvisados feitos de madeira e concreto.

Não por acaso, o skatista prodígio Filipe Mota, que hoje reside em Los Angeles e disputa os maiores campeonatos da modalidade de rua, atingiu excelência praticando diariamente na quadra do Bairro Boa Vista. Ele inclusive foi convocado para a categoria de base da seleção brasileira da Confederação Brasileira de Skate.

A história da pista de skate no Bairro Boa Vista
A procura por um local adequado para praticar skateboard ocorreu em meados de 2017, quando os skatistas Caio Gontijo e Daniel Werneck se juntaram a Edson Mota, pai de Filipe Mota, e se mobilizaram para adotar o local no Bairro Boa Vista, por se tratar de uma das únicos quadras cobertos e em desuso na cidade.

Caio Gontijo conta que os skatistas costumavam utilizar uma quadra coberta no Bairro Jardim Califórnia, porém devido ao número de demandas do centro de convivência de idosos, não foi possível continuar usando o espaço para a prática esportiva. A solução foi procurar outro local para realocar os obstáculos.

“Na ocasião eu morava no Bairro Eldorado e procurando por um local, me deparei com a quadra do Bairro Boa Vista, que estava inutilizada, suja e tomada por bastante mato ao redor. Fiquei sabendo que ninguém mais jogava bola por lá e que o local estava sendo frequentemente ocupado por andarilhos”, disse Gontijo.

Em contato com Fábio Amaro, então secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Caio, Daniel e Edson fizeram a tramitação necessária para protocolar um pedido de adoção da quadra e a Prefeitura cedeu o espaço pelo período de quatro anos, com a condição de que os usuários do local fizessem a manutenção do mesmo.

A estrutura da funbox em etapa de construção / Caio Gontijo

A quadra passou para a tutela do trio, que de imediato levou os obstáculos que estavam no Bairro Jardim Califórnia para o local. Caio conta que obteve uma capina da praça por intermédio da Prefeitura e que conseguiu uma quantidade de brita para cercar a quadra e impedir que o mato tomasse novamente o entorno da quadra.

Em julho de 2017, Caio e Edson dividiram as despesas (cerca de 4000 mil reais, em madeiramento, metal e mão de obra) para custear a construção da funbox central que ocupa o centro da pista. “O obstáculo foi projetado e construído de skatista para skatista, o que torna aquela pista muito boa de andar”, relata.

Os demais obstáculos foram cedidos por Cássio Dener, sendo eles duas rampas de 45 graus e um quarter pequeno. Com o passar do tempo, outras rampas e corrimões foram levadas ao local por skatistas diversos que frequentam a pista, mas infelizmente com o desgaste de uso e tempo, alguns deles se degradaram.

“Tudo que está ali foi feito por meio do esforço coletivo dos skatistas que sempre apareciam para dar uma força na construção dos obstáculos. Se perdermos aquela quadra coberta acabou, não iremos conseguir mais nada do tipo. Esta reforma será muito importante para preservarmos tudo que conseguimos”, concluiu.

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2 Comentários

  1. Realmente essa questão merece ser estudada e solucionada. Patos de Minas há muito tempo carece de espaços adequados onde jovens possam praticar esportes livremente e de forma segura, sem incomodar os moradores é claro. E logicamente cabe aos jovens preservar estes locais, pois os poucos locais que conheci, como quadras etc., foram depredados pelos próprios usuários, o que é lamentável.

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  2. REPORTAGEM COM TRECHO INVERÍDICO
    Desde a construção da pista de skate até o presente empasse com os usuários, jamais foi feita qualquer reunião ou consulta de opinião com os moradores do entorno da praça e do bairro.
    A construção da pista foi feita motivada por interesses privados. O sujeito citado acima como responsável pela iniciativa da pista apenas o fez para patrocinar seu filho a andar de skate, sendo que o mesmo até trancava a quadra com cadeado que só o mesmo tinha acesso. Ademais, um dos responsáveis citou que a quadra estava sendo inutilizável e abandonada à época da construção, uma grande mentira, visto que sempre era frequentada entre jogadores de futsal, queimada, basquete e handebol.
    É inegável que todos os moradores do entorno da praça a querem ver bem utilizadas, porém é indiscutível a necessidade de diálogos com os moradores por parte da prefeitura e daqueles que se acharam/acham donos da quadra. Os frequentadores que estão sendo consultados sequer moram perto da quadra.
    Enfim, uma péssima conduta daqueles que monopolizaram a pista para que o filho pudesse usar e uma vergonha que o atual secretário de esporte sequer tenha se preocupado em dialogar com os moradores da praça, principais envolvidos e afetados pela construção da pista. Afinal de contas, sejamos francos, levantar bandeira a favor da pista é muito fácil quando não se está 24 horas ouvindo os barulhos por ela causados. Se querem tanto uma pista de skate, façam no fundo da casa de vocês ora pois.

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